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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Dura Faina

DURA FAINA

A chuva cai insistente e impiedosa,
Fustiga a caravela que dança na vaga,
A chusma desnorteada prega aos céus…
Sufocam-se as vozes que clamam compaixão,
Perversos deuses que permitem a ilusão
Dos homens que labutam e se tornam réus
Jogados sem culpa no mar que os apaga
Mãos pintadas de sangue em tons de rosa.

Família amargurada que perde seu pai,
Que a fome decepa por culpa de ninguém…
Culpa solteira que é de tantos
Culpa envergonhada que traça corações.
Olha-se ao longe o brilho dos arpões
Em terra, rostos gastos pelos diários prantos,
No bolso contam-se os trocos, de vintém em vintém,
Espera-se o fim da faina quando a lua cai.

O sal queima-lhes rugas salientes,
As suas roupas fétidas não escondem o trabalho.
As gaivotas… essas sim voam divertidas,
Avisam os homens para quando a tempestade
São mensageiras da desgraça e da verdade,
Conhecem as marés, os ventos e estas parcas vidas.
Praias desertas cobertas de cascalho,
Viúvas chorosas e impacientes.

Semblantes carregados de triste olhar,
A velhice passada na mesa da taberna
A lembrar os mares revoltos que davam luta,
As redes cheias do melhor peixe do mercado,
Andar lento e trôpego de pescador revoltado.
A revolta desta vida filha de puta,
Que dorme ao relento à porta da caserna
Ao frio, ao passado… ao mar.

Fernando Saiote (Pedras Soltas)


Fernando Jorge Matias Saiote nasceu a 4 de Fevereiro de 1970 em Montemor-o-Novo, onde reside.
Como se escreve no prefácio da sua obra “Pedras Soltas”, “falar de Fernando Saiote em termos literários é, um pouco, descrevê-lo na sua forma de pessoa. A sua escrita é profícua em adornos e muito rica na sua composição vocabular. Quase se poderia dizer que cada textoé filtrado várias vezes, em busca da perfeição, antes de ser mostrado ao leitor.”
É uma poesia em que o poeta se desnuda, mostrando a sua tristeza e solidão, numa curiosa relação com o passado e o presente.

3 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDO JOSÉ, NÃO CONHECIA ESTE POETA E ADOREI A FORMA COMO ESCREVE... DESCREVEU QUASE NA INTREGA A FAINA DOS HOMENS DO MAR NA SUA FAINA... SIMPLESMENTE DIVINO... UM ADGRANDE ABRAÇO DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

Paula disse...

Um belíssimo poema feito por alguém que conhece bem a vida desta "gente" da faina da pesca.
Fez-me lembrar um pouco os pescadores da Costa Nova do Prado, das Gafanhas, e de outras zonas da Ria de Aveiro, que ainda hoje vivem desta profissão tão arriscada e dura, mas que admiro muito.
Também a todos aqueles, que como tu, conhecem bem esta "vida".
Obrigada por este belo momento.
Beijinhos de amizade.

Fernando Jorge Matias Saiote - Montemor-o-Novo disse...

Quero aqui deixar o meu agradecimento pelo carinho demonstrado nos vossos comentários e os parabéns pelo excelente blog.