A poesia alentejana
É para ser dita ou cantada
E quando é escrita e lida
É sempre prejudicada
Escrever bem não é poesia
É cultura aprendida
É uma parte da vida
Aprender o que não sabia
Mas ser poeta é teoria
Muita gente se engana
É uma vocação humana
Que não se pode mudar
É para se dizer ou cantar
A poesia alentejana
Escrita perde a beleza
Perde a personalidade
E baixa de qualidade
Deixa de ser surpresa
Porque são dotes que a natureza
Entrega de mão beijada
Só a pessoa dotada
Pode e sabe apresentar
Porque a poesia popular
É para ser dita ou cantada
Ouçam com atenção
As guitarras a tocar
E os poetas a mostrar
Toda a sua vocação
Mantendo uma tradição
Que não pode ser perdida
Jamais será esquecida
São palavras do autor
Mas perde muito do seu valor
Quando é escrita e lida
Quem escreve quer emendar
O que não sabe fazer
E de bem que quer escrever
Começa a prejudicar
Porque a poesia vulgar
Bem ou mal interpretada
Tem que ser ouvida e julgada
Por poetas valorosos
Se for escrita por curiosos
É sempre prejudicada
Eusébio Pereira (O Papeleiro) nasceu em 1915, no "Monte da Caveira", concelho de Grândola, onde os seus pais trouxeram ao mundo sete irmãos, entre os quais a poesia popular se revelou um elemento caracterizador, de natureza genética.
Apenas em 204, já com quase noventa anos, se dispôs a publicar algumas das suas cantigas, cujo resultado foi o livro autobiográfico (como o próprio autor reconhece) com o título "Retalhos de uma vida em poesia popular".
Há 1 dia
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